Uma questão de Prioridades
São 10 da noite. O neném acaba de dormir. Neném como quem diz, já mede quase 1 metro e tem mais de 10 páginas de dicionário completas na língua. Meu cérebro parece uma gelatina. Dava tudo para ficar na cama e apagar até o despertador das 6 da manhã tocar e eu também não levantar.
Esta semana foi assim. Isto significa que se eu não descesse, acensesse essa luz branca florescente da cozinha, pior que corredor de hospital, e começasse a processar estes pensamentos e emoções mal digeridos durante tão e somente apenas o dia de hoje, a semana que vem iria ser bem, mas bem pior.
Pior do que ter uma semana pior do que a que passou é partilhar com alguém como é que as coisas chegam neste ponto! Martirizei-me o dia todo. Que vergonha. Pior do que partilhar com alguém esta semana em modo shut down é explicar para alguém a minha aparente incapacidade de simplesmente enviar a contagem da luz uma única e simples vez por mês.
Definitivamente sou Mãe. Só outra mãe entenderia que não é bem falta de organização. Não é bem decuido. E também não é bem dificuldade em definir prioridades e muito menos de resolver aquilo que precisa ser resolvido de forma tão simples.
Sabe, quando se tem uma cria debaixo do seu nariz pelo menos 20 horas por dia... você cansa! Suas prioridades variam de 2 em 2 horas. O que era prioritário a sua vida inteira, pode deixar de ser num estalar de dedos.
Funciona assim: você está cansada, está exausta, cheia de emoções para processar e contas para pagar. Tem 3 dias que não toma sequer banho, questão de prioridades. Então, o ser mais doce do mundo começa a rabiscar o seu livro preferido. Aquele que fica guardado num cantinho especial da estante e do coração. Você vê e reagir seria a primeira opção em qualquer ocasião. Só que não.
O seu livro preferido rabiscado vs. uns 90 segundos para abstrair do mundo vendo stories no instagram ou pensando em como iria simplificar aquele termo complicado pro cliente.
É, pode rabiscar o livro. Por falar nisso, rabisca a estante inteira, enquanto eu fico aqui por uns 3 minutos a te olhar e simplesmente a não fazer nada.
Mas não. O neném se contentou rápido. O nível de satisfação foi proporcional ao valor do rabisco justamente naquele livro. Vem correndo em minha direção. Quer mamar. Foram preciosos os meus 90 segundos. Levanto a blusa de relance. É mesmo tudo que tenho pra lhe dar.
Deito uma lágrima ou duas, mas entretanto já começa a passar pela cabeça o que será o jantar. E, espere aí! Já há outra fralda para trocar. Até que foi tranquilo e não deu luta. Brincamos, lemos, dormiu e consegui, por milagre — só pode ser força divina — não afundar.
Há uma caixa de emails para gerir, contabilidade da casa para por em dia, lancheira do neném para preparar para o dia seguinte, uma semana para organizar, uma pilha de loiças e brinquedos espalhados.
E este é o lado bom da coisa, coisa de minimalista que vive com companhia consciente que entretanto fará a sopa, limpará o chão e dobrará a roupa seca.
No outro lado da moeda está uma mãe desesperada no dia 23 dissertando sobre a contagem da luz a ser enviada entre o dia 10 e 12 do próximo mês. Pior que isso é que hoje não tomo meu sagrado banho...
(Achava que não podia ficar pior, mas escrevi este texto há uma semana e só hoje consegui publicar.)
Uma questão de prioridades.